Filosofia
da educação, história da filosofia e política educativa
Amélie Oksenberg Rorty
Universidade de Brandeis, Massachusetts
Os filósofos sempre tiveram a intenção de transformar o modo como
observamos e pensamos, agimos e interagimos; sempre se consideraram a si mesmos
como os educadores definitivos da humanidade. Mesmo quando pensavam que a
filosofia deixa tudo como está, mesmo quando não apresentavam a filosofia como
a mais exemplar actividade humana, pensavam que interpretar o mundo
correctamente — compreendê-lo e compreender a nossa posição nele — nos
libertaria da ilusão, conduzindo-nos àquelas actividades (vida cívica, contemplação
da ordem divina, progresso científico ou criatividade artística) que nos são
mais apropriadas. Mesmo a filosofia "pura" — metafísica e lógica — é
implicitamente pedagógica. Tem a intenção de corrigir a miopia do passado e do
instante.
A reflexão filosófica acerca da educação, de Platão a Dewey, tem sido
assim naturalmente dirigida para a educação dos governantes, daqueles que se
presume preservarem e transmitirem — ou redireccionarem e transformarem — a
cultura da sociedade, o seu conhecimento e os seus valores. Todas as épocas
históricas são marcadas por uma disputa pelo poder, como o poder da autoridade
da tradição ou do poder manifesto, como o poder do conhecimento filosófico,
espiritual ou científico, como o poder da criatividade artística, da produtividade
mercantil ou tecnológica. Só muito recentemente na história das democracias
liberais é que a política educativa foi formulada e direccionada para
indivíduos presumivelmente autónomos, que determinam os seus próprios
objectivos e que estruturam as suas próprias vidas. Em lado algum é a filosofia
da educação mais importante, em lado algum é a própria educação mais crucial —
e em lado algum é mais esquecida — do que numa democracia participativa
liberal, cujos compromissos igualitários transformam cada indivíduo
simultaneamente em legislador e em súbdito.
As disputas no centro da discussão contemporânea da política educativa
(Quais são as orientações e os limites da educação pública numa sociedade
pluralista e liberal? Como podemos garantir da melhor maneira uma distribuição
equitativa das oportunidades educativas? Deverá a qualidade da educação ser
supervisionada por padrões nacionais e exames? Deverão as escolas públicas
levar a cabo a educação moral e religiosa?) restabelecem as controvérsias que
marcam a história da filosofia, de Platão à epistemologia social. Discussões
fecundas e responsáveis da política educativa remetem inevitavelmente para
questões filosóficas mais amplas, que as sugerem e enquadram: essas questões
são articuladas e examinadas de maneira mais precisa na teoria moral e
política, na epistemologia e na filosofia da mente. Quais são as finalidades
próprias da educação? (Preservar a harmonia da vida cívica? Salvação
individual? Criatividade artística? Progresso científico? Capacitar indivíduos
para que façam escolhas sábias? Preparar cidadãos para entrar numa força de
trabalho produtiva?). Quem deve deter a responsabilidade primordial de formular
a política educativa? (Filósofos, autoridades religiosas, governantes, uma
elite científica, psicólogos, pais ou autarquias locais?). Quem deve ser
educado? (Todos por igual? Cada um segundo o seu potencial? Cada um segundo as
suas necessidades?). Como é que a estrutura do conhecimento afecta a
estruturação e a sucessão das aprendizagens? (Será que é a experiência prática,
ou a matemática, ou a história, que deve fornecer o modelo de aprendizagem?).
Que interesses devem guiar a escolha de um currículo? (A obtenção de uma
vantagem competitiva no mercado económico internacional? A representatividade
religiosa, política ou étnica? A formação de uma sensibilidade cosmopolita?).
Como devem as dimensões intelectual, espiritual, cívica, moral, artística,
psicológica e técnica da educação estarem relacionadas entre si?
Dado que somos herdeiros de uma história das concepções das finalidades
e orientações da educação, essa história permanece activamente inserida e
expressa nas nossas crenças e nas nossas práticas. Fornece-nos a compreensão
mais nítida das questões que nos preocupam e nos dividem. A maior parte das
teorias do conhecimento — seguramente as de Descartes e de Locke — tinham,
entre outras coisas, a intenção de reformar as práticas pedagógicas. A maior
parte das teorias éticas — certamente as de Hume, Rousseau e Kant — tinham a
intenção de reorientar a educação moral. O alcance prático das teorias
políticas — as de Hobbes, Mill e Marx — não se limita apenas à estrutura das
instituições, também chega à educação dos cidadãos. Sistemas metafísicos gerais
— os de Leibniz, Espinosa e Hegel — fornecem modelos de investigação e, como
consequência, estabelecem orientações e padrões para a educação de espíritos
esclarecidos. Alguns filósofos — Locke, Rousseau, Bentham e Mill, por exemplo —
fizeram dos seus programas educativos uma característica nuclear dos seus
sistemas filosóficos. Outros — Descartes, Espinosa e Hume — tinham boas razões
para não tornarem explícito o significado educativo dos seus sistemas.
Se a política educativa é cega sem a orientação da filosofia, a
filosofia é vazia se desprovida de uma atenção crítica ao seu significado
educativo. Uma filosofia da educação robusta e vital incorpora inevitavelmente
o todo da filosofia; e o estudo da história da filosofia obriga à reflexão
sobre as suas implicações para a educação.
Amélie Oksenberg Rorty
Retirado de "The Ruling History of Education", in Philosophers on Education: New Historical
Perspectives, org. por Amélie Oksenberg Rorty, Londres, Routledge, pgs. 1-2
Tradução de Rui Daniel Cunha
Gabinete de Filosofia da Educação
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Gabinete de Filosofia da Educação
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
A meu ponto de vista e com base nos estudos filosoficos devemos ensinar aos individuos a agirem como seres pensantes que somos.Podemos constatar nos livros de filosofia que o filosofo ensinava seus discipulos ou seguidores a pensar e tirar suas proprias definicoes de determinado assunto.E devemos sempre nos perguntar e pro.curar respostas para tudo o que nos causa duvida procurando os argumentos necessarios e solidificando respostas.
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