Clenio Lago
(Brasil)
Graduado em Filosofia pela Unifra/RS, Mestre em Educação
pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Santa Maria (PPGE/UFSM), no Brasil
Doutor em Educação pela PUC/RS.
John Locke (1632-1704), filósofo empirista inglês, encontra-se na passagem do mundo medieval ao moderno, em um dos períodos mais turbulentos da história da Inglaterra, marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento, segundo Weffort (1991, p. 81), “[...] controlados, respectivamente, pela dinastia Stuart, defensora do absolutismo, e a burguesia ascendente, partidária do liberalismo”, do qual resultou o Estado Moderno, cujos reflexos se fizeram sentir nas mais variadas áreas, fazendo-se necessário para a compreensão do hoje.
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A origem das idéias e a
educação
Inicialmente, devemos
considerar que Locke entende o homem como criatura de Deus, naturalmente livre
e racional, dotado de capacidades inatas, cuja mente é “[...] um papel branco,
desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer idéias [...] quarto escuro [...] um armário totalmente vedado
contra a luz [...]” (LOCKE, 1988 p. 27, 49 e 50); que o conhecimento é
adquirido, a experiência (sensação/externa e a reflexão/interna) como a fonte
de todo o conhecimento e o homem racional.
Assim, ciente
da vulnerabilidade da alma humana e do momento histórico vivido, imaginando que
“[...] o espírito dos meninos toma este ou aquele caminho tão facilmente como a
água” (LOCKE, 1988, p. 32), que o conhecimento se dá de fora para dentro9 e que o homem é pela educação
recebida, mais que depressa, Locke buscou trabalhar com a sugestionabilidade
humana, pois conforme Hernandes (1991, p. 44), “a força dos costumes, das
opiniões difundidas é de tal porte, que é capaz de romper, até mesmo, um
instinto natural, um dos mais altos e universais interesses do homem [...] a
existência do instinto de autopreservação [...]”.
Como os instintos naturais de
autopreservação são insuficientes para fazer frente aos costumes e às opiniões
alheias, buscou vincular a sensação e a reflexão e torná-las base do processo
educativo, reforçando e negando os caracteres naturais, segundo o ideal a ser
alcançado. Sendo a experiência sensível, a porta de entrada às idéias simples,
aos materiais do conhecimento, ela constitui-se no primeiro momento tanto da
ação cognitiva quanto da ação educativa. Mas, chamou a atenção de que a ação
pedagógica deve ser conduzida com cuidado e com sabedoria, segundo o
desenvolvimento natural da criança, proporcionando experiências em vista do
fim: por um lado, salvando e desenvolvendo as disposições naturais voltadas
para o bem e disciplinando-as; por outro, freando as inclinações para o mal e
incutindo-lhes os referenciais da ação humana, uma vez que o caráter germina e
frutifica em torno da experiência individual, com base na relação bem/prazer e
mal/dor. Conforme Locke (1988, p. 45),
As idéias, porém, que na
realidade marcam inicialmente as impressões de modo profundo e permanente, são
as que vêm acompanhadas pela dor e prazer. Uma vez que a principal tarefa dos sentidos
consiste em fazer-nos observar tudo o que causa mágoa ou proveito ao corpo,
coube à natureza ordenar com sabedoria, [...] que a apreensão de várias idéias
deve ser acompanhada pela dor, preenchendo, desta maneira, o espaço para a
ponderação e o raciocínio nas crianças.
Estes, o
prazer e a dor, na obra Alguns
pensamento sobre a educação, Locke (1986, p. 80) os concebe como “[...] os
ferrões que excitam a ação e como as rédeas que guiam o gênero humano inteiro”,
pois, como afirma em outra passagem, “a única coisa que tememos, naturalmente,
é a dor ou a privação do prazer” (LOCKE, 1986, p. 161). Assim, sendo as
crianças muito sensíveis aos elogios e ao desprezo, ao prazer e à dor, a
educação deve proporcionar, cuidadosamente, a inculcação de referenciais à vida
virtuosa, associando prazer à felicidade e vício à infelicidade.10
Para Jorge Filho (1992, p.
277-278), a proposta educacional de Locke
[...] antes, cumpre
sensibilizar a criança para um critério de reputação em sintonia com a lei de natureza,
mesmo que divirja dos costumes sociais. A educação lockiana tem como propósito,
não a adaptação a estes, mas a libertação de sua influência corruptora. [...]
possibilitar a ascensão gradual da razão ao governo do entendimento e da
vontade.
Se as alterações ocorridas em
nosso corpo não forem percebidas e não chegarem até a mente, não teremos a
matéria do pensamento a ser trabalhada e relacionada, não existindo
conhecimento e nem educação, pois tanto o processo do conhecimento quanto o
educativo se dá de fora para dentro. Como Locke visa a formar o homem virtuoso,
o gentleman apto a buscar o conhecimento e
comportar-se como é devido em sociedade burguesa, valendo-se deste processo
lógico, preferiu a educação doméstica, a fim de melhor proporcionar e controlar
experiências positivas relacionadas ao prazer e negativas relacionadas à dor,
em torno do ideal a ser formado, criando o desejo de ser virtuoso, pela
canalização das vontades ao ideal de sociedade burguesa. Para tanto, apontou
que a educação deve começar desde cedo, visto entender que a maior parte dos
homens é pela educação recebida. O que está em jogo é a vulnerabilidade humana,
pois
Quando as crianças chegam ao
mundo pela primeira vez, encontram-se rodeadas por uma infinidade de coisas
novas, que, por constante solicitação de seus sentidos, orientam a mente
constantemente para elas, avançando para observar de novo, e se deliciando com
a variedade cambiante de objetos. São, assim, os primeiros anos usualmente
empregados e entretidos em olhar para fora. [...] assim, crescendo com a
atenção constante para as sensações externas, raramente os homens fazem alguma
reflexão considerável sobre o que ocorre com eles, até atingirem a idade
adulta; e alguns raramente, e mesmo jamais (LOCKE, 1988, p. 29).
Como não nascemos adultos,
como nossas capacidades não se encontram desenvolvidas e somos muito
vulneráveis, Locke propõe a formação de “bons hábitos” como a forma mais eficaz
do processo educativo, sempre considerando o desenvolvimento natural da
criança. Segundo Hernandes (1991, p. 70), “a preferência de Locke pelo hábito resulta do seu reconhecimento acerca
da inutilidade de pretender-se moldar a mente infantil recorrendo-se à
explicitação e à memorização de regras e preceitos. [...] Contra a ineficácia
das regras, temos a eficácia da prática” (grifo é da autoria). Ainda conforme
Hernandes (1991, p. 86), para Locke, o hábito “[...] tem, na realidade,
qualificação positiva quando ligado a questões práticas, disciplinares ou de
eficiência, tanto física quanto mental. Entretanto, o hábito não desfruta, em
Locke, de status teórico, epistemológico”. Sua importância está vinculada à
ação prático-pedagógica, proporcionando a armadura necessária à busca do
conhecimento e à conduta ética, à medida que determina subordinar à razão todas
as opiniões e instintos, mas não sua sustentação, pois é carregado de
irracionalidade.
Enfim, tanto no processo do
conhecimento como no educativo, Locke vale-se da mesma lógica. Ambos se dão de
fora para dentro, com base nas experiências individuais que, na ação
pedagógica, devem ser orientadas a moldar a mente e o caráter em vista de um
padrão ideal de comportamento, através da instauração de bons hábitos. Por
exemplo, o de subordinar tudo aos pressupostos da razão. Não esqueceu, porém,
de chamar a atenção às disposições naturais, às individualidades, como que se
desculpando de ter tratado a mente humana como uma tabula rasa.
Muito bom professor esse conteúdo, a teoria de Locke nos mostra muito sobre a educação, principalmente sobre a aquisição de conhecimento através das experiências.
ResponderExcluirDaniela Carla S. Costa 2º período de Letras.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO que Locke quer dizer sobre experiencia é que elas nos fornecem as ideias que habitam nossos pensamnetos
ResponderExcluirAriany Carvalho 2º Periodo de Letras Ingles
Em suma, Locke se apoia na tese de que as ideias humanas provém de experiências externas (Empirismo), outrossim, desprezando as ideias inatas defendidas pelo Racionalismo, tal qual o misticismo e a metafísica. Na educação, atesta que o mestre tem papel importante, já que, só através de sua intervenção os alunos chegarão ao conhecimento.
ResponderExcluirEdvaldo Santos/Letras- Período II.