segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Theodor Adorno e a educação



Theodor Adorno e a educação para o pensar autônomo

Filósofo alemão defende uma formação humanística, capaz de criar a consciência crítica


Fernando Cassaro 
       Revista Nova Escola – 11/2009

çre
Theodor Adorno (1903-1969) dedicou a vida ao entendimento dos processos de formação do homem na sociedade. O filósofo e sociólogo alemão foi um dos fundadores da Escola de Frankfurt, corrente de pensamento do início da década de 1920 fundamentada na ideologia marxista. Adorno teve um papel importante na investigação das relações humanas. Queria entender a lógica da burguesia industrial para defender mudanças na estrutura social e, com esse propósito, acabou entrando no terreno da Pedagogia - apesar de não ser considerado por especialistas como um teórico da área (veja o quadro abaixo). 

Para entender o pensamento de Adorno em relação à Educação, é importante compreender as críticas que ele faz à indústria cultural, vista como a responsável por prejudicar a capacidade humana de agir com autonomia. O tema foi tratado pela primeira vez em 1947 no livro A Dialética do Esclarecimento, que ele escreveu em parceria com Max Horkheimer (1895-1973), também da Escola de Frankfurt. Os autores explicam que a consciência humana é dominada pela comercialização e banalização dos bens culturais - fenômeno batizado posteriormente de "semiformação".

"Adorno afirma que há um processo real na sociedade capitalista capaz de alienar o homem das suas condições de vida", explica Rita Amélia Teixeira Vilela, doutora em Educação pela Universidade de Frankfurt e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). É nessa discussão que está a chave para entender a crítica adorniana à escola: para o autor, a crise da Educação é, na verdade, a crise da formação cultural da sociedade capitalista como um todo.

Na opinião dele, o problema da Educação está no fato de ela ter se afastado de seu objetivo essencial, que é promover o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão. A escola, assim, se transformou em simples instrumento a serviço da indústria cultural, que trata o ensino como uma mera mercadoria pedagógica em prol da "semiformação". Essa perda dos valores, segundo o autor, anula o desenvolvimento da autorreflexão e da autonomia humana. "Adorno critica a escola de massa por ela, segundo ele, instalar e cultuar a massificação. O resultado disso é a deformação da consciência", diz Rita Amélia.

Numa escola em que impera a banalização do conhecimento, o aluno é induzido a deixar de ler com profundidade as principais obras literárias, por exemplo, dando lugar à absorção de apenas alguns trechos necessários para responder aos exercícios escolares. "São repassados nada mais do que conhecimentos fragmentados e o trabalho pedagógico está somente orientado para conseguir a aprovação em exames e um diploma", afirma Rita Amélia. Seria a famosa "decoreba" de respostas prontas, em vez do estímulo ao raciocínio.

A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA A EMANCIPAÇÃO À primeira vista, pode parecer que Adorno era contra a Educação. Pelo contrário. As críticas ao processo pedagógico são consequência do reconhecimento pelo autor da capacidade que ela tem de transformar as relações sociais. Fica evidente em sua obra a defesa de um projeto de libertação do homem por meio da formação acadêmica, porém uma formação de amplitude humanística. Para Adorno, o ensino deve ser uma arma de resistência à indústria cultural na medida em que contribui para a formação da consciência crítica e permite que o indivíduo desvende as contradições da coletividade.

O autor defende um processo educacional capaz de criar e manter uma sociedade baseada na dignidade e no respeito às diferenças. Segundo ele, o mundo estaria danificado pela falta de capacidade dos indivíduos de resistir ao processo de sua própria alienação. Mesmo quando a Educação considerada ideal estiver limitada e condicionada a uma realidade nada promissora, Adorno prega um projeto pedagógico que consiga libertar da opressão e da massificação.


Adorno e a Educação -Teoria Crítica na Educação

Abaixo segue o vídeo Adorno e a Educação - Teoria Crítica na Educação. Parece-me   muito apropriado. Espero que vocês também gostem. A ideia é não entregar-se cegamente ao coletivo. Traz partes de discursos de Hitler, de como ele dominou as massas, provocando milhares e milhares de mortes. Vejam o conteúdo com o mesmo olhar crítico que o autor tratou essas questões. Vale a pena ver na sua íntegra:

"Pessoas que se enquadram cegamente no coletivo fazem de si mesmas meros objetos materiais, anulando-se como sujeitos dotados de motivação própria."



A seguir apresentamos o artigo: Adorno: Educação e Emancipação de Nildo Viana, cujo resumo é o seguinte:

Resumo: 
Para Adorno, a educação deve, simultaneamente, evitar a barbárie e buscar a emancipação humana. Ele questiona a educação autoritária e pensa uma educação emancipatória, mas, ao não apresentar um projeto de transformação social global, deixa de lado uma compreensão da totalidade da sociedade repressiva e realiza um isolamento do processo educacional, atribuindo a ele um papel transformador que dificilmente pode realizar isoladamente. 

Para ler o artigo na íntegra, acesse:

3 comentários:

  1. A visão critica de Adorno se assemelha bastante com a de outros filosófos como Istvan Mezáros, quando a educação é usada para transmitir a lógica do capital, tornando-se uma semi-educação. É interessante como Adorno fala que a educação e libertadora e também escrava do capital,

    ResponderExcluir
  2. Adorno também relata as transmissões de costumes, quando fala que o homem aprende a ser homem imitando o próprio homem e por isso que o ser humano nunca irá dessamarrar-se da lógica capitalista, pois já nasce nela.

    ResponderExcluir
  3. E perceptível que a comunicação de massa, ou seja, a mídia em si, influencia imensamente. A classe oprimida principalmente, e quando educa-se para o mercado de trabalho e para a uma cidadania não humanizadora se está contribuindo bastante para esta situação, deve-se primeiramente educar para a vida, para a autonomia, para o pensamento crítico, ou seja, uma educação emancipatória, onde haja uma produção de consciência verdadeira, onde o indivíduo saiba lutar contra a opressão e a alienação, para que no mundo além da sala de aula ele seja tratado não como um “objeto” ao qual só tem que receber ordens e executá-las , mas como um ser pensante, e singular.

    ResponderExcluir